
QAnon e a minha sanidade mental
Disclaimer – Este artigo é de opinião, portanto discordar dele é natural e de salutar, assim como o reverso. No entanto, isso não significa que tu estejas certo.
Floresceu nestes Estados Unidos da América, uma de tantas outras teorias conspirativas que levam o cidadão (comum ou não) a questionar os alicerces da sua vida em sociedade e mesmo da sua vida pessoal.
Quem segue esta teoria acredita, uns mais outros menos, que há uma cabala secreta, formada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, que dirige uma rede global de tráfico sexual infantil.
Muitas vezes misturando a última moda, que são os negacionistas, da pandemia, da vacina e outros. Claro que a proliferação deste tipo de “ideologia” pegou como fogo no mato das redes sociais. Embora seja tentador fazer um julgamento sumário, não o farei aqui, para proveito do livre discorrer da minha opinião e da reflexão de todos quantos me leem.
Seguindo o rasto deste movimento, criando algures em 2017, teve o seu apogeu em três datas correlacionadas e importantes.
A primeira, a reeleição de Donald J. Trump no verão de 2018, o agora ex-presidente dos EUA, é visto como uma espécie de salvador dos costumes e tradições de uma América forte, grande e próspera.
Um segundo momento, em Berlim, na Alemanha quando a 29/08/2020 foi executado o “ensaio geral” daquele que viria a ser um dos momentos mais lamentáveis da política americana recente. Nesta tentativa de invasão do Bundestag, disfarçada de manifestação contra as medidas restritivas à pandemia, vários movimentos de extrema-direita como a AFD tentaram, um golpe de estado para a libertação do povo, das amarras do poder político. Foram vistas várias bandeiras americanas e símbolos do Qanon.
O terceiro momento, todos sabem qual foi, a invasão do capitólio e todas as suas consequências, em vidas, em segurança e sobretudo, na recepção geral de que isto não poderia estar a acontecer no centro da democracia ocidental por excelência, mas aconteceu.
A opinião que tenho é simples e profunda ao mesmo tempo.
Simples, porque, na verdade, quando percorro as notícias e os artigos de opinião de um lado e de outro vejo muito medo, muita obstinação e intolerância.
Profunda, porque, na verdade, todos os movimentos, em especial o QAnon, está a ser mais uma manifestação, da incapacidade do ser humano de responder a tantos estímulos, informações, comentários, publicações, debates, ‘podcasts’, rádio, TV, redes sociais, enfim um sem número de separadores vorazes, que requerem toda a nossa atenção bem como todo o volume da nossa massa encefálica a toda a hora.
Ainda assim, permitam-me deixar aqui este pensamento. Depois de ver tantos comportamentos quase animalescos, pensei que poderiam aproveitar o lema do QAnon, — #WWG1WGA, "onde for um, vamos todos nós" — E participar na sociedade, para construir algo, para entender, que se alguém ao pé de ti não compra o que tu estás a vender pode ser por falta de dinheiro, ou por falta de vontade, ou seja, porque não pode ou porque não quer. Seja qual for o caso, a compaixão é a melhor expressão que se me ocorre, sem pena, sem superioridade moral forjada na tua própria cabeça, sem mais. Simples aceitação do caminho alheio. Alheio porque não é o teu e, porque não és tu que percorres.
Podemos ter muitas questões colocadas, muitas dúvidas sobre a direção para onde nos levam às políticas públicas, os investimentos privados, a sociedade civil e até as forças armadas do nosso país. Sobre o que fomos, o que somos e o que seremos. A ética e a moral não são coisas das quais nos possamos apropriar. Temos o dever de nos respeitar a nós próprios tanto quanto temos o dever de respeitar o outro.
Não se tornam proscritos, mortos e enterrados, aqueles que não concordam contigo, os que discutem as tuas ideias, e por muito que isso custe, de vez em quando, faz por entender, por escutar ativamente. Se eu conheço quem me achou estranho, esquisito e desadequado? Sim. Mas então porque não calçar os sapatos de quem é crítico? Agora a minha pergunta é a seguinte: De quem é o problema?
Este artigo é de opinião e por isto suas ideias reflectem a visão do autor e não de todos os membros do Polititank.